Hoje o projeto «Ensinando uma Criança a Viver» parceria entre o Blog da Criança, o Clube das Estrelinhas e a Sehiarpo Associação, traz um artigo muito especial direcionado aos pais. O tema é «A autoestima durante a infância», um assunto que passa muitas vezes passa despercebido pelos pais e pelas mães.
Criar uma criança implica não só ter condições financeiras para sustenta-la, ter bens materiais, proporcionar viagens e passeios; criar uma criança significa formar um ser humano para o mundo. Por isso todo amor e carinho deve ser dado à uma criança e para além deste amor e carinho, os pais devem olhar com olhos de ver e prestar atenção no que transmite ao seus filhos desde a mais tenra infância. O texto abaixo é de autoria da terapeuta holística Yolanda Castillo.
A autoestima durante a infância.
A autoestima é um grande handicap para 90% dos pais, uma vez que a maioria de seus filhos tem um desequilíbrio nela, de maior ou menor forma. Por isso é um tema que desperta preocupação e curiosidade para muitos pais na atualidade. Mas apesar de ser um tema do qual se fala, existe um grande desconhecimento dos pormenores deste sentimento e de como atuar quando os seus filhos têm um problema de autoestima.
Como podemos definir a autoestima? Que importância tem na nossa vida?
A autoestima é um sentimento, uma condição que cada pessoa tem dela mesma, que lhe permite amar-se, aceitar-se, respeitar-se e confiar nela mesma. Esta opinião que cada ser humano cria, permite-lhe traçar um caminho face ao seu desenvolvimento e evolução pessoal. Ela é uma fiel amiga que nos acompanhará sempre.
Mas onde e quando nasce a autoestima?
Como já mencionado noutros artigos escritos para o Bigmãe, quando a mulher está grávida, o bebé sente absolutamente tudo aquilo que se passa à sua volta, mas sobretudo o que a sua mãe sente. Não só em relação à gravidez, como também por ela mesma e pelos outros. É na gravidez onde se começa a formar a autoestima do bebé e futuro adulto, já que nesta fase gestacional o bebé assume e herda tudo da mãe, incluindo a sua parte psico-emocional. Deste modo, se a mãe tem uma excelente autoestima, o bebé terá uma base psico-emocional positiva, para conseguir construir com mais facilidade uma autoestima sólida desde os primeiros minutos de vida. Pelo contrário, se a mãe é ou se sentiu insegura, desvalorizada e/ou com falta de amor-próprio, será essa herança psico-emocional que o bebé estará assumindo como um auto-padrão emocional que o acompanhará automaticamente desde esse momento. Por isso, quando nasça, se sentirá mais frágil face ao mundo, inseguro, chorão e retraído. Porque foi essa mistura de emoções que lhe foi transmitida durante nove meses, ficando gravado no seu subconsciente, condicionando-lhe desde o primeiro minuto de vida extrauterina.
Pelo que, quando nascemos e iniciamos a nossa vida fora do útero materno, a autoestima já vem condicionada pela autoestima e sentimentos positivos ou negativos da mãe.
Qual é a etapa onde esta se desenvolve e se torna sólida?
Sem dúvida, é a primeira infância. As crianças são frágeis e fortes ao mesmo tempo, mas sobretudo são sensíveis, intuitivas e têm uma personalidade “esponja”. Absorvem toda a informação que recebem através do seu campo visual, auditivo, olfativo, táctil e gustativo. Sejam estas informações positivas ou negativas, são absolutamente todas registadas no subconsciente e consciente da criança. Deste modo, os adultos, sobretudo aqueles dum âmbito mais próximo, exercem um papel essencial na formação duma autoestima adequada ou prejudicial, que em muitos dos casos se arrasta até à adolescência e etapa adulta, condicionando a sua vida. Por isso, pode-se concluir que a autoestima da criança, depende em grande parte do ambiente familiar e da atitude que os pais e o seu ambiente têm face à criança.
Os pais e profissionais que interatuam habitualmente com as crianças, como podem detetar que a criança tem problemas de autoestima?
As crianças que têm problemas de autoestima apresentam características muito notáveis. Mas apesar disso, muitos pais não detetam o problema, porque as consideram qualidades positivas, tais como o perfeccionismo, em que a criança não quer cometer erros em nenhum caso e procura sempre a aprovação de um adulto, para certificar-se de que o fez bem. Precisa de sentir-se reconhecida pelas pessoas que mais admira ou as mais próximas, na maioria dos casos, os pais, irmãos e professores. Em muitos dos casos, os pais sentem-se orgulhosos pelo empenho de seu filho, mas em 95% dos casos, são um aviso de que a sua autoestima está fragilizada. Esta fragilidade é alimentada pela própria criança e os incentivos equivocados. Em nenhum momento se pretende que a criança não seja elogiada, mas que os adultos aprendam a fazê-lo e ser conscientes de que é necessário o acompanhamento terapêutico psico-emocional que reverta o processo de autoestima baixa. Existe outro abanico de condições que acompanham e colocam de manifesto problemas de autoestima, tais como, a insegurança constante e o sentir-se incapaz de fazer as coisas. Por isso, a maioria são catalogados como “vagos” ou “preguiçosos” mas na realidade, não é assim. Apenas sentem medo a equivocarem-se, a fazê-lo mal, que lhes ralhem e sentirem-se frustrados, por isso, preferem não o fazer. Deste modo evitam que os corrijam, já que para eles esta correção é assumida como uma crítica que afeta diretamente as suas emoções.
Que atitudes diminuem a autoestima nas crianças?
Elas são muito sensíveis e precisam de se sentir protegidas e amadas pelos seus pais, por isso, quando os pais, educadores ou professores lhes ralham em público ou diante dos seus amigos a quem eles vêm do mesmo modo, não o tomam como algo construtivo, porque não entendem porque lhes estão a chamar a atenção em público. Para elas, é negativo, já que o primeiro que pensam é que são inferiores aos outros, que foram humilhados e culpados. Para além disso, também geram sentimentos de frustração, vergonha e medo em manifestar o que sentem. Isto faz com que as crianças sejam tímidas, sintam falta de amor ao seu redor e em alguns dos casos, isolam-se e rejeitam pessoas e/ou ambientes novos, desconhecidos, nos quais não se sentem protegidos e seguros. Como é óbvio, é preciso corrigir as atitudes, comportamentos e inclusive tarefas incorretas que fazem as crianças, uma vez que forma parte da sua educação. Apenas é preciso explicar-lhes o porquê de estarem a ser corrigidos, o que é que está mal e o que seria o correto. Em nenhum caso, fazendo-os gerar sentimentos negativos que resultem em frustração, mas utilizando a compreensão e a lógica. As crianças somente precisam de entender o porquê das coisas, para mudar de atitude. Isto lhes fará sentir seguros e elevará a sua autoestima, já que com respostas como: “Porque eu disse”, “Porque sim” ou “Porque o teu pai e eu mandamos”, não são conceitos que esclareçam nada na mente da criança, não compreendem, por isso, é impossível que mude de atitude. Pensem que como adultos, também não mudamos características ou rotinas de nossas vidas somente porque alguém nos diga, mas tentamos entender o que nos argumentam para analisar se é aceitável ou não a mudança.
Que atitudes podem aumentar a sua autoestima?
O “mundo adulto” é uma referência para os mais pequenos da casa, já que sonham com um dia converterem-se nele, e sempre tem uma figura adulta como um ídolo ou um herói/heroína a quem imitar. Isto joga a favor dos pais, se souberem como emprega-lo, pois as nossas atitudes e a forma como os tratamos são o exemplo que tentarão imitar. Por isso, se nós fomentamos às crianças, atitudes que estabilizem ou aumentem a sua autoestima, estamos contribuindo de forma construtiva para a personalidade, valores e educação da criança. É imprescindível que os tratemos sempre com respeito, para que eles se tratem a eles mesmos e aos outros, do mesmo modo, assumindo-o como um padrão correto. É importante que exista uma comunicação fluida e aberta entre adulto/criança, sem tabus ou falando-lhes como se não entendessem nada, porque isso fá-los sentir inseguros e também que seus pais têm segredos para eles, então, porque eles não podem ter segredos se os seus pais não lhes contam as coisas? Este é um dos motivos que leva a que muitas crianças comuniquem os seus problemas, necessidades ou vitórias aos seus pais de forma natural. O amor é essência, pelo que, nada melhor que abraçá-lo e elogiar os seus êxitos. É também muito importante que, tendo em conta a sua idade, lhes deem responsabilidades à criança e regras que cumprir, porque assim sentem-se valorizadas. É essencial serem realistas, mas desde um ponto de vista positivo, uma vez que não existe nada que não possam ganhar se não se esforçam por isso. Sempre se deve elogiar as suas capacidades e tentar aperfeiçoar aquelas que a criança crê que o incapacitam, já que todos temos qualidades positivas, que são importantes para que a criança consiga ter a sua autoestima elevada e através delas, dar uma volta de 360ºC àquelas imperfeições.
Que repercussões tem a falta de autoestima, quando se converte num adolescente ou inclusive num adulto?
Todavia existem muitos adultos que não valorizam devidamente a falta de autoestima nas crianças, e vêm-no como algo próprio da idade, porque um elevado número sofrem deste problema, mas na realidade, não é algo “normal” ou necessário, senão um sintoma de que algo está em desequilíbrio nos seus pais, seja de forma individual ou em conjunto, assim como na sua casa. Muitas vezes apenas é necessário mudar as rotinas, hábitos e atitudes, ou dito doutra forma, mostrar à criança o exemplo que deve seguir, já que se o seu pai/mãe tem problemas de autoestima, ele copiará aquilo que vê no seu espelho, ou seja, nos seus pais.
A falta de autoestima é um fator a ter em conta muito importante, já que se não se corrige durante os primeiros anos de vida, esta carência, com o passar dos anos irá aumentando e se converterá num problema mais grave, dando início a uma fase adolescente muito retraída ou que procure relacionar-se através de sistemas virtuais. Noutros casos, adolescentes chateados com o mundo, à procura dum culpável que não encontram e que manifestam o seu desagrado através do fracasso escolar, surtos de agressividade, etc.
Na atualidade existem adultos que sofreram baixa autoestima durante a sua infância, mas ao longo da sua vida, tentaram camuflar e corrigir este problema com um escudo de aparências que não é mais do que uma forma de fugir à sua realidade, já que é muito baixa a percentagem de adultos que seguem algum tipo de técnica terapêutica para solucionar o seu problema. Mas como adultos também têm “sintomas” de que não estão bem com eles mesmos, e não falo de medidas físicas que tomam em muitos casos para soluciona-lo, mas sim noutras coisas tão quotidianas como a falta de pontualidade, querer fugir das responsabilidades ou pelo contrário, uma necessidade irreprimível de levar a cabo todas as tarefas e sentir-se imprescindível no seu meio habitual.
É vital, ter noção do papel fundamental que a autoestima tem na nossa vida, já que é ela a que nos permite desenvolvermo-nos e evoluirmos individualmente e como comunidade.