Hoje o Blog da Criança traz para vocês, mais uma linda história educativa de autoria de Yolanda Castillo, para o nosso projeto “Ensinando uma criança a viver” realizado em parceria com o Clube das Estrelinhas.
Existem diversas formas de abandono, vimos a história de Mara e Lina que foram abandonadas pelos pais, agora vamos conhecer a história de Tânia, uma menina que se sente abandonada dentro de sua própria casa pois não tem a atenção da família.
Abandonada na minha própria casa.
Tema: Abandono afetivo.
Sinto-me tão triste…Às vezes pergunto-me como é possível alguém sentir-se tão só e triste numa casa cheia de gente. Vou contar-vos a minha história, para que me conheçam um pouco melhor, mas na verdade, esta não é só a minha história, mas também a história de outras crianças do mundo.
Sou Tânia, tenho nove anos e vivo em Berlim. A minha família á muito numerosa e quase todos vivemos juntos. Estão os meus papás, os meus avós paternos, a minha irmã Juanita, o meu irmão Alan e a sua noiva. Por isso é difícil encontrar um momento de privacidade em casa, porque sempre há gente, exceto no meu quarto, que é o lugar que mais gosto, porque tenho os meus brinquedos, a minha zona de estudo e também a minha trompete. Frequento a escola de música há já 2 anos e é incrível o tanto que gosto e os sons tão bonitos que se produzem.
Quase todos os meus amigos desejam chegar a casa para estar com a família e contar aos seus pais como lhes correu o dia, mas no meu caso não é igual. Eu adoro e odeio estar em casa. Ninguém me escuta, não brincam comigo, não me dão atenção…sempre estão tão ocupados ou cansados…que às vezes parece que não existo ou sou uma carga para eles, e isso faz-me sentir triste.
Quero-os muito mas odeio estar em casa e passar tempo com eles, porque na realidade não passo tempo com eles. Às vezes faço tudo o que eles querem para tentar ser sua filha perfeita: estudo muito e tiro boas notas, comporto-me bem, vou às aulas de inglês, pratico remo e estudo na escola de música. Ah! E ajudo a avó nas tarefas de casa, quando me pede. Às vezes quando cai a noite sinto-me esgotada, mas sempre creio que vale a pena se os meus pais estão contentes. Apesar de às vezes não ser suficiente e me ralharem por me sentir cansada, ou por ter tirado uma nota mais baixa na escola ou se me ponho nervosa numa audição e não me sai bem. Não valorizam o meu esforço… sinto-me triste.
Às vezes só me vão ver às audições os meus avós, porque os meus pais dão muita importância ao seu trabalho, ou inclusive chegam tarde, e isso chateia-me muito. Porque é que eu não sou tão importante para eles como o seu trabalho? No final de contas eu sou a sua filha, e supõe-se que para os pais, os filhos são importantes.
Em certas ocasiões porto-me mal, contrario-os, atuo como se fosse uma menina pequena e não paro de me mexer e de lhes fazer perguntas sem parar…e pergunto-me: Será que assim me darão mais atenção? Mas pelo contrário. Relham-me sem parar, constantemente. Isso põe-me triste. Nas notícias ou no jornal falam de crianças que são órfãs ou que seus pais as abandonam, mas eu descobri que também fui abandonada dentro da minha própria casa, parece-vos estranho não? Os meus pais dão-me todo o material, um bom colégio, uma casa e nunca me faltou roupa para me vestir nem comida, mas sinto tanto a falta de passar tempo com os meus pais, dos seus abraços, que me leiam contos, de brincar, sair para passear e que valorizem também todas as coisas boas e as coisas que faço para os ajudar. Mas isso quase nunca acontece, e quando acontece, vivo momentos de muita felicidade. Sinto-me abandonada pelos meus pais, preferia ter menos coisas mas mais a meus papás. Faz-me tanta falta o seu amor e os seus abraços, mas sempre me ralham. Isso preocupa-me mas nunca contei aos meus pais, tenho vergonha e medo. Sei que algumas crianças do colégio também se sentem como eu, mas guardam-no em silêncio. Ao fim e ao cabo, não sabemos se os nossos pais têm culpa ou não. Sem me dar conta, comecei a perder o apetite e não tinha vontade de fazer nada. Só me apetecia estar só e pensar. Meus pais nem se deram conta que eu estava diferente e que comia menos. Isso deixava-me ainda mais triste. O meu avô Tomás sentiu que algo não estava bem porque eu quase não comia e estava muito cansada, por isso falou com os meus pais. Ele era o único que conseguia que eles parassem uns minutos e ouvissem atentamente.
Eles preocuparam-se muito e mamã decidiu vir ao meu quarto e falar comigo, para saber o que se passava, e sabeis o que aconteceu? Ela nunca vinha a dar-me as boas noites, perguntar como me tinha corrido o dia ou apenas ver-me, desde que eu tinha 5 anos e acordava com pesadelos.
Expliquei à minha mãe como me sentia e tudo o que pensava. Ela pôs-se triste e ficou impressionada, porque estava tão concentrada em fazê-lo bem que se esqueceu das minhas verdadeiras necessidades. A partir deste momento tudo mudou, os meus pais passavam mais tempo comigo, saíamos juntos e para além disso deixei algumas atividades que apenas fazia para os agradar. Papá voltou a contar-me histórias todas as noites e eu cantava enquanto a mamã e a avó cozinhavam.
Eu não sou boa a dar conselhos mas sabeis uma coisa? Quando sentis a falta de vossos pais, mesmo tendo-os perto, quando tenhais um problema ou não estejais contentes com algo, mesmo sendo com algo que fazem os vossos pais, contai-lhes. Eles poderão ajudar-vos, entender-vos e nunca vos esqueceis que eles vos amam e querem que sejais felizes. Nunca permitam sentir-vos abandonados tendo os vossos pais próximo. Falai com eles.
O Clube das Estrelinhas
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