Canção africana para a vida

Hoje, 07 de Abril, em celebração ao Dia Mundial da Saúde, trazemos uma bonita história para que nossos amiguinhos e amiguinhas, resultado do lindo projeto «Ensinando uma Criança a Viver» entre o Blog da Criança e a Sehiarpo Associação.

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Canção africana para a vida

Olá Olá!

Saúdo-vos desde um lugar muito especial, a barriga da minha mãe. Sim! Ela está grávida e vou nascer dentro de pouco tempo. Estou muito contente porque a minha mãe teve uma gravidez tranquila e os médicos especialistas trataram dela e acompanharam-na para que ela e eu estejamos bem. Gostaria muito de me apresentar, mas os meus pais ainda não escolheram o meu nome. Faltam apenas umas semanas para que possa conhecer o mundo como vós o conheceis. Mamã foi ao médico e parece que está tudo fantasticamente bem, por isso os meus pais decidiram viajar uma semana a um país africano onde vive minha tia Rosita. Que entusiasmo!

Passados uns dias chegamos a esse país de nome tão diferente de Portugal, que ainda não o consigo pronunciar. Aqui está muito mais calor do que estamos habituados e mamã sente-se muito cansada, mas está feliz por ver a minha tia Rosita. Ouvi dizer que minha tia pertence a uma organização que ajuda dando alimentos, água potável, medicamentos e cuidados às pessoas que vivem em lugares mais pobres. A tia Rosita é muito feliz aqui, porque muita gente depende da sua ajuda. Agora está num lugar muito grande, com um dos poucos centros médicos e escolas que existem na zona. Bem! As crianças que vão à escola parecem muito grandes, um dia eu serei como eles e sorrirei sempre muito!

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Sinto que mamã está muito alegre, eufórica e algo estranho está a acontecer aqui dentro…oh! Vou nascer já, é o momento, apesar de ser antes do previsto, todos estão felizes. Minha tia Rosita e papá levaram-na ao centro médico mais próximo e ao fim de uma hora de chegar eu nasci. Tudo é tão diferente aqui fora… na barriguita da mamã estava mais quentinho e sentia-me mais protegido. Quando nasci, as enfermeiras levaram-me para uma sala com coisas que chamam “incubadoras”, onde havia outros bebés como eu, que como tínhamos nascido semanas antes, estávamos frágeis e não tínhamos o peso adequado. Ao meu lado havia um bebé que nascera umas horas antes de mim. Ele não parava de chorar, eu tentei perguntar-lhe várias vezes o que se passava, mas ele só chorava, não me dizia nada. Eu ouvia como as enfermeiras se lamentavam do que se tinha passado com a mamã do pequeno, ela morreu quando o bebé nasceu. Fiquei muito triste porque não conseguia imaginar o triste que ele se devia sentir por ter perdido a sua mãe. Por isso não deixava de chorar. Eu falei com ele um bocado, tentei tranquiliza-lo, mas parece que nada fazia efeito. Ocorreu-me cantar-lhe uma canção africana que minha mãe me cantou durante toda a gravidez, e pouco a pouco o bebé tranquilizou-se e deixou de chorar. Disse-me que essa canção também lhe cantava sua avó a sua mãe quando estava grávida dele e se sentia triste.

Conversamos um bocadinho, até que por fim, depois de tanto chorar e da canção, adormeceu profundamente. Senti-me muito mal, porque não entendi porque a sua mãe tinha morrido e a minha não. Porquê? As enfermeiras romperam o meu momento de reflexão para levar-me aos braços da minha mãe, que feliz! Mamã está muito cansada mas contente. É a primeira vez que provo o seu leite, sinto-me muito forte com ele. Adormeci nos seus braços, mas quando acordei lentamente, ouvi o que papá, mamã e a tia falavam do que tinha acontecido a Magali, a mãe do bebé. Tia Rosita contava que aqui era muito habitual algumas mulheres morrerem durante a gravidez, o parto e após o bebé nascer. Em este lugar não há muitos centros médicos ou hospitalares, e os que existem têm que dar prioridades às pessoas mais graves e quase nunca estas são as grávidas. Elas só são prioridade quando chegam muito mal ao hospital. Aqui têm outro problema, que é o facto de não disporem das mesmas instalações e equipas que noutros países da Europa por exemplo, e assim às vezes os médicos não conseguem ajudar-lhes todo o bem que necessitariam. Eu apenas ouvia com muita atenção porque não conseguia compreender tudo o que diziam.

A minha mãe ficou triste e pensativa, a ela também lhe custava compreender porque sucediam estas coisas, porque o vínculo entre mãe e filho era tão grande, que não imaginava o sofrimento que um passaria sem o outro. Mamã perguntava o que acontecia com os bebés que ficavam sem mãe. Tia Rosita disse que em muitos casos os bebés morriam porque não tinham o alimento da mãe. O seu leite ajuda a que o bebé se torne forte, não contraia doenças e que o seu corpo cresça saudável. As mulheres aqui não se alimentam bem e muitas vezes não têm acesso à água potável, por isso as mulheres noutros países têm gravidezes mais saudáveis, porque comem e bebem o suficiente, de forma adequada e para além do mais os médicos e especialistas cuidam delas. Aqui os cuidados são menores e as suas condições de vida piores, por isso a mulher tem mais dificuldades em resistir ao parto e o bebé em sobreviver. O seu organismo está mais debilitado, por isso às vezes os bebés nascem com deficiências nutricionais, que somados à falta doutros cuidados não tem condições para viver.

O meu amigo Adem conseguiu sobreviver porque a minha mãe decidiu alimentá-lo com o seu leite, Deu-nos leite e mimos a ambos, os médicos lhe proporcionaram todos os cuidados possíveis e mamã cantava-nos a canção africana, que era como uma carícia no seu coração. A canção lembrava-lhe sua mãe e trazia felicidade e forças para viver.

Adem fez dois anos e é o meu melhor amigo, ele está feliz, cresceu rodeado de amor e pensa cada dia na canção africana que lhe deu a vida e o ajudou a sobreviver no seu dia-a-dia.

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