Hoje dia 09 de Agosto é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, a data foi instituída pela Assembleia Geral da ONU em 23 de Dezembro de 1994, para para que fosse comemorada todos os anos durante a primeira década internacional dos povos indígenas (1995 – 2004). No ano de 2004, deu-se seguimento a segunda década internacional dos povos indígenas (2005 – 2015).
Em razão de ser uma data muito especial e em continuação a nossa parceria com o Clube das Estrelinhas, hoje trazemos a história da pequena Magali que vive num bonito lugar chamado Península de Yucatán, vamos saber mais?
Dia Internacional dos Povos Indígenas
Magali, a criança indígena da Península de Yucatán
O meu nome é Magali e tenho a sorte de dizer que vivo num lugar especial: a Península de Yucatán, por isso, sou maya e sinto orgulho nisso e nas minhas raízes. Muitos dos que vivem na Europa ou em grandes cidades, chamam-nos de indígenas por mantermos a cultura, primeiras tradições e hábitos que deram lugar a ser quem somos hoje em dia. Entristece-me que penséis que por nos mantermos fiéis às aprendizagens que fizeram de nós um povo feliz, culto e unido, nos considerem indígenas ou selvagens. Isso não é certo. Vocês crêem que por viver em cidades com grandes edifícios bonitos, restaurantes, centros comerciais onde compram roupa com muita frequência para estar sempre diferentes, são civilizados e nós selvagens.
Tendes rádio para ouvir músicas modernas, cinemas e televisões para ver grandes histórias que não são vossas, inventadas para vos entreter e para que não estejam aborrecidos. Em contrapartida, no meu povo, não temos nada disso, mas somos felizes. Sabeis porquê? Na realidade não temos tantas roupas, nem tão luxuosas como as vossas, mas são o suficientemente boas para que estejemos vestidos, não tenhamos frio e estejamos limpos.
Nós não vivemos centrados nas aparências físicas, nem queremos às pessoas por como se vestem, mas sim por serem boas, bondosas e respeitosas; isso levamo-lo em nosso coração e não nas roupas luxuosas. No povo, apreciamos muito os valores que nos ensinam nas reuniões de idosos, que são aos domingos à noite. Eles contam-nos histórias de como viviam os nossos antepassados, também de como eram originariamente as terras nas quais vivemos actualmente, antes de estarem contaminadas e modificadas pelos desejos do homem.
Também não vemos as histórias criadas por alguns homens, essas que vocês vêem na TV ou no cinema, para se divertirem. Eu, e quase todas as crianças que vivemos no povo, preferimos conviver com a nossa família, inventar os nossos jogos, estar na natureza…ao fim e ao cabo gostamos de criar a nossa própria história, assim é mais bonita, real e podemos contá-las aos nossos filhos no futuro. A minha avó diz que enquanto se vê televisão, perde-se tempo para termos as nossas próprias vivências e estabelecer as bases para a nossa vida. Ela diz que quando brincamos, estamos com outras pessoas que pensam e actuam doutro modo, nos enriquecemos, aprendemos e assim podemos saber o que é bom ou mau, o que é o mais e menos correcto e assim tomarmos as nossas decisões do que queremos fazer.
Os mayas valorizam a família e a amizade de uma forma diferente que na Europa, nós convivemos mais juntos, gostamos de compartilhar o tempo com nossos seres queridos.
Para nós a família e a amizade é o mais importante, definitivamente. Porque todos somos amigos e companheiros uns dos outros, formando assim uma família. Nós não perdemos tempo com videojogos ou outro tipo de coisas e objectos artificiais. A avó diz que muitas vezes, vós, as crianças europeias, quando passam muito tempo com os jogos artificiais, bloqueiam a vossa criatividade, não conseguem imaginar do mesmo modo que nós nem apreciar, manter os jogos tradicionais e cultura que deu origem a que viváis no mundo actual, ¡ah! E a que existam países ricos culturalmente e que o desaproveiteis ou que essas tradições se percam com os avós. Para nós, a família e a amizade é o mais importante, porque todos somos amigos e companheiros uns dos outros, formando assim uma família.
Eu sei que a cultura do meu povo forma as raízes da minha personalidade, da minha vida e de um futuro no que possa caminhar firme e recordando quem sou, de onde venho e o que me fez ser feliz e enraizada à minha Terra. Fazemos muitas coisas que nos ajudam a manter viva a nossa cultura, bailes, festas, etc.
Há algo que todas nos fornecem e com todas elas estamos em liberdade e sentimo-nos livres, não temos ataduras emocionais, porque sabemos que a liberdade está em nosso coração e a obtemos quando desprendemos amor, respeito e sobretudo, se somos felizes de coração. Vós crendes que sois livres porque tendes muitas coisas que vos proporcionam bem-estar, comodidade e vos despertam novas qualidades, mas na verdade não vos sentis livres. Se realmente fossem livres, não vos escandalizaria ver-nos em cima das árvores ou caminhar descalços na terra ou outras coisas, pelas quais nos marcam de “indígenas” ou “selvagens”, menosprezando-nos, quando nós somente disfrutamos plenamente dessa liberdade que desejáis.
Somos diferentes das sociedades que dizeis que são mais evoluídas. Nossa forma de ver a vida, o dia-a-dia e os valores que damos às coisas que são mais ou menos importantes, mudam entre a vossa sociedade e o nosso povo. Mas, mesmo não tendo as vossas tecnologias e modernices, tratamo-nos com muito amor e respeito. Não descriminamos a ninguém por ser diferente e muito menos gostamos que julguem, critiquem e descriminem o nosso povo ou a outros povos indígenas, pelo facto de sermos diferentes, gostarmos de coisas diferentes e termos um ponto de vista que difere do vosso em relação a prioridades e coisas ou situações que vos fazem felizes.
De facto, vocês têm razão numa coisa, somos indígenas e para nós é um orgulho manter viva a nossa cultura e sabedoria dos antepassados; sentir amor pela terra na qual vivemos, pela gente com a qual convivemos e pelo planeta. Todos somos habitantes do mesmo planeta, sendo indígenas, ricos ou pobres, com mais ou menos cultura, por isso o planeta é a nossa mãe e devemos saber amar-nos e respeitar-nos entre nós, para crescermos juntos e aprendermos uns com os outros. Juntos e em harmonia somos mais felizes. Pertencemos a diferentes famílias, comunidades, povos ou cidades, mas todos somos seres humanos e compartilhamos o mesmo lugar, o Planeta Terra.